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Seis contra Medina num debate (aceso) na luta por Lisboa
Notícias
Publicado em 03/09/2021

Fernando Medina (PS), Manuela Gonzaga (PAN), Bruno Horta Soares (Iniciativa Liberal), Carlos Moedas (PSD), João Ferreira (CDU), Beatriz Gomes Dias (BE) e Nuno Graciano (Chega) são os candidatos à Câmara de Lisboa que protagonizaram o debate da noite desta quinta-feira, na antena da SIC, no âmbito das eleições autárquicas. 

O frente a frente, que teve lugar na Praça do Município, começou por se debruçar sobre o caso do envio de dados pessoais às embaixadas, com Fernando Medina a arrancar com uma 'chuva' de críticas por parte dos concorrentes. 

O ambiente 'aqueceu' quando a palavra passou para Nuno Graciano, o candidato do Chega a Lisboa, que mostrou ao atual líder do executivo camarário a capa do jornal Correio da Manhã e lhe leu um documento sobre a mesquita no Martim Moniz, onde diz haver "o perigo do islão radical".

Ora, Fernando Medina contra-atacou, alegando que preferia "não dar palco" ao Chega e defendendo que a intervenção de Graciano tinha sido "uma belíssima síntese do que é a sua participação no Chega". 

Manuela Gonzaga também apontou farpas a Graciano, uma vez que não gostou de ouvir o candidato do Chega a classificar os restantes candidatos como "carreiristas da política".

O debate prosseguiu em tom mais morno, mas com pesadas críticas a Medina no dossiê habitação acessível. Perante o coro de críticas, o autarca assumiu que o ritmo do seu programa de habitação não foi o melhor, mas continuou a defender a sua eficácia.  

Já quando o tema 'em cima da mesa' é o aeroporto de Lisboa, as opiniões dividem-se. O candidato da coligação PS/Livre à presidência da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, admitiu a extinção do aeroporto Humberto Delgado, solução com a qual o seu principal adversário, Carlos Moedas, não concorda.

Fique com os principais destaques: 

Envio de dados pessoais às embaixadas

Fernando Medina: "Não houve qualquer problema com a lei da manifestação em 40 anos, neste caso houve, o que nos levou a tomar as medidas de reorganização que se impunham para assegurar que não voltaria a acontecer. Em todas as grande organizações há problemas.  Nunca escondemos o problema, assumi-o na primeira hora, realizámos uma auditoria em tempo recorde e tirámos uma conclusão. Chegámos à conclusão que não era um caso isolado e tomámos medidas para corrigir". 

Carlos Moedas: "O que disse [na altura sobre o caso] é que foi uma situação gravíssima. Em qualquer Câmara Municipal na Europa, o presidente tinha-se demitido. Enviar dados que são a dignidade da pessoa humana para um país estrangeiro é gravíssimo. Não me parece normal que aconteça num país como Portugal. Os políticos têm que assumir exatamente o erro político, e Fernando Medina não assumiu. Dever-se-ia ter demitido ele e não um técnico". 

Qual a estratégia do Chega para ter sucesso?

Nuno Graciano: "Sou um homem fora deste esquema político. Sou um cidadão comum e como tal vim à procura de algumas respostas dos carreiristas políticos. O que me moveu foi um convite, estou a começar agora. Visitei Lisboa e esta é uma cidade cheia de problemas. [Seguirá as orientações do vice-presidente?] Ele tem a opinião dele, eu tenho a minha e o candidato sou eu. Posso seguir orientações mas não vou perder a minha identidade. Tenho-me deparado com indícios de corrupção que existem na Câmara que são gravíssimos [mostra a capa do Correio da Manhã e lê documento sobre a mesquita no Martim Moniz onde há o perigo do islão radical]". 

Fernando Medina: "Não lhe quero dar particular importância [a Nuno Graciano] porque não há eleição autárquica em que essas questões não se coloquem e também não quero dar palco ao Chega que faz das insinuações a sua vida pública. Nuno Graciano fez uma belíssima síntese do que é a sua participação no Chega. Não merece mais nenhum comentário". 

Nuno Graciano: "Na verdade não houve uma resposta. São estas as respostas que a população não tem. Não existem. O que Fernando Medina acabou de fazer foi escusar-se a responder ao que são factos". 

Manuela Gonzaga: "O Nuno Graciano começou por nos abranger a todos como se fôssemos carreiristas. Eu devo dizer que a minha vida pública tem sido basicamente noutros setores e considero a política uma atividade digníssima. [Nuno Graciano tenta falar e Manuela Gonzaga atira: "Não me interrompa"]. Não aceito o termo carreirista".

Rendas acessíveis

Fernando Medina: "A questão da habitação acessível é a mais importante da cidade de Lisboa. É por isso que o programa que iniciámos e desenvolvemos, e que teve amplo apoio em particular do BE e PCP, é da maior importância porque define que as rendas destas casas são no máximo 30% do salário líquido. Estamos a construir e a reabilitar essas casas. Há 1.200 famílias que terão até ao final do ano casa atribuída. Não vou poder prometer uma construção fora de regras e que as coisas aconteçam por magia. Pela minha vontade, eu assinava um papel e as casas apareciam". 

Carlos Moedas: "O ponto aqui é olhar para o problema e perceber o que correu mal. O programa de renda acessível falhou, o urbanismo está estagnado e depois temos os bairros municipais que são vergonhosos. Temos de mudar a maneira como gerimos esses bairros. Há 1.600 fogos [de habitação] que estão vazios. A solução é mudar a empresa [que os gere] e depois adequar a casa à família. A solução da renda acessível tem de ser o privado e o público". 


João Ferreira: "Em Lisboa, na habitação, temos de admitir os três regimes de propriedade e temos de encarar a possibilidade de reforçar a propriedade pública e a cooperativa. Não é, como propõe Carlos Moedas, isentando as pessoas de pagar o IMT que vamos conseguir. O que foi feito nos últimos anos? O acordo entre BE e PS previa 25 mil pessoas novas a terem acesso a habitação acessível. Em termos gerais, este compromisso resultou num rotundo fracasso". 

Beatriz Gomes Dias: "O acordo que o Bloco de Esquerda assinou com o PS em 2017 permitiu que fosse integrada a proposta de um programa de renda acessível 100% pública. E insistimos sempre que este devia ser 100% público. O PS, com apoio de outros partidos, insistiu num pilar privado. O PCP viabilizou essa medida. O BE votou sempre contra esta operação público-privada". 

Horta Soares: "O público não é uma solução ótima. Quando Fernando Medina gastou 60 milhões para reabilitar 250 imóveis no centro da cidade para ajudar a classe média estava a fazer propaganda política. Na pandemia, os sem-abrigo foram enfiados num gimnodesportivo no Casal Vistoso. É uma ilusão. A solução é que empobrecemos as pessoas e depois dizemos que lhes vamos dar coisas grátis. Isto não é um circulo vicioso". 

Nuno Graciano: "Fernando Medina prometeu uma quantidade de imóveis que não entregou, recorrendo a uma justificação do Tribunal de Contas. Prometeu 6 mil casas e fez 400 e tal [Medina corrige: 1.203]". 

Fernando Medina: "Ficou aquém, ficou. Mas não aconteceu nada neste mandato, pois não?".

Nuno Graciano: “Porque é que diz números que não cumpre? Nós preferimos não ter números e ir aferindo e percebendo aquilo que temos ou não capacidade para fazer para ser exequível. Está há seis anos como presidente da Câmara, como é que não cumpre? Como é que vive com isso?". 

[Graciano pergunta se Medina não quer responder. Medina questiona qual a pergunta. Graciano ataca: "Falta de respeito"]

Fernando Medina: “Qualquer pessoa percebe que nós, num programa inovador, tivemos obstáculos no Tribunal de Contas. Nuno Graciano, não sei em que planeta andou nos últimos anos, mas houve uma pandemia. O que temos em procedimento são oito mil fogos. Não estarão prontos no próximo mandato, mas vão avançar. A única crítica que me conseguem fazer é dizer que o ritmo não foi suficientemente rápido. É verdade, mas tenho a certeza que o programa funciona". 

Manuela Gonzaga: "De facto, há programas que não foram cumpridos. Temos uma gestão autárquica entre PS e PSD [nos últimos anos] e o problema vem-se arrastando. Precisamos de respostas. A cidade não está a ser gerida como um todo. Temos de gerir a cidade como se fosse um corpo vivo. Foram os pequeninos investidores que se endividaram e que reabilitaram grande parte do edificado na cidade. Com a quebra de turismo, querem passar para um arrendamento de média e longa duração. Não estamos nada de acordo que lhes tirem as licenças". 

Aeroporto de Lisboa


Fernando Medina: "O Montijo pode ser o aeroporto principal e Portela o secundário? Sim. Dissemos ao Governo: Alcochete ou Montijo? O Governo que decida. O grande requisito é que haja acessos rápidos à cidade de Lisboa. Há uma coisa que não pode acontecer. Não pode haver a expansão do aeroporto em Lisboa e qualquer solução de futuro tem de assegurar a diminuição do impacto do aeroporto de Lisboa. Estamos a viver um tempo de intervalo. Quando passarmos a fase da pandemia, vamos ter uma recuperação rápida do turismo e a cidade não tem capacidade aeroportuária para 30 milhões de movimentos". 

Carlos Moedas: "A minha visão desde 2014 é Portela mais um. De facto, o Montijo poderá ter 24 movimentos por hora, o que é muito pouco. Alcochete permite mais movimentos. A minha ideia é Portela como aeroporto de cidade e depois outro [aeroporto] e penso que Alcochete seria a melhor decisão, mas isso terá de ser decidido pelos técnicos". 

João Ferreira: "Aeroporto da Portela existe nesta localização há 80 anos e chegou-se à conclusão que tinha de ser substituído. Lisboa é a única capital com esta aberração que é um aeroporto a crescer dentro da cidade. Chegou aos 30 milhões de passageiros. Há falta de visão estratégica de Medina. Lisboa não precisa de mais um aeroporto, mas de substituir este. Passámos a aceitar como definitiva uma solução que até hoje era temporária, a Portela". 

Beatriz Gomes Dias: "O que é fundamental é colocar a saúde e a segurança das pessoas em primeiro lugar. O que não pode continuar é este ziguezague, temos de ter uma decisão e o aeroporto tem de sair da cidade. Montijo teve parecer ambiental negativo, a solução é Alcochete e deve ser estudada". 

Nuno Graciano: "A posição do Chega é que a situação Portela como está é insustentável. Há que criar uma solução. Alcochete ou Montijo ainda está em estudo. A solução é acabar com a Portela progressivamente. A melhor decisão é a que nos mostrarem os estudos. Tirar o aeroporto da cidade é fundamental e até hoje não houve um acidente graças a Deus".

Bruno Horta Soares: "[Não houve acidente não foi graças a Deus], mas ao avanço tecnológico permanente. Não é uma discussão a ter numa campanha. Espero que venham muitos turistas do Montijo, da Portela e muita gente e essa continua a ser a nossa visão". 

Manuela Gonzaga: "Somos um partido decididamente ambientalista. Nem Alcochete nem Montijo, ali é o Estuário do Tejo. Aquele sítio é inviável. Temos um aeroporto perfeito em Beja e que com ligação ferroviária não é assim tão longe. Só falta uma autoestrada. Não desistimos Beja, mas não devemos desmantelar Portela". 

Prioridades

Nuno Graciano: "Quanto à mobilidade. A Câmara de Lisboa construiu x quilómetros de ciclovias e o que se passa é que estão a obstruir a liberdade de circulação. Prejudicam a mobilidade de forma afincada". 

Bruno Horta Soares: "Baixa de impostos e modernização deste monstro que está aqui ao lado. Tivemos um ano e meio de merda e estas serão provavelmente as eleições da nossa vida. Portanto, faço um apelo a que as pessoas votem". 

Beatriz Gomes Dias: "Queremos continuar a influenciar a forma como a política é feita na cidade de Lisboa, queremos impor medidas que consideramos fundamentais como aumentar o parque de habitação pública da cidade. É fundamental ter mais casas e nós queremos construir 10 mil casas 100% públicas". 

Manuela Gonzaga: "Para além da causa animal, que quero reforçar, uma das nossas bandeiras é uma cidade livre de touradas".

João Ferreira: "Temos um desafio em Lisboa que é conjugar de forma harmoniosa várias prioridades estratégicas. Precisamos de mais habitação a custos acessíveis, precisamos de intervir na habitação que existe. Tem de haver vida para além do turismo. Precisamos de qualificar ambientalmente a cidade. Temos de fazer de Lisboa uma cidade da cultura e do desporto e precisamos de um urbanismo mais transparente". 

Fernando Medina: "A grande prioridade é, indiscutivelmente, a habitação para os jovens e para a classe média. Assegurar que estes têm casas a preços que podem pagar. Ao contrário do que aqui foi dito, o nosso programa está a avançar. Este é um caminho que não se faz sem dificuldades. Mais aposta no transporte público coletivo e requalificar espaço público". 

Carlos Moedas: "Vim da Comissão Europeia para mudar a maneira como se faz política e a transparência será uma das minhas bandeiras. Acesso à saúde para os mais velhos. Trazer para Lisboa a experiência da construção de uma fábrica de empresas".

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