O presidente do PSD e o presidente da Iniciativa Liberal (IL) concordaram, esta segunda-feira, que a convergência entre os dois partidos "não é difícil", até porque "concordam no diagnóstico" da situação do país, mas João Cotrim Figueiredo sublinhou que divergem no "caminho" e "na urgência".
Ambos iniciaram o debate, transmitido pela SIC, a apontar pontos de convergência entre as duas forças políticas, com Rui Rio a reconhecer que "não é difícil" que PSD e IL se entendam "quanto a algumas coisas".
"Temos tanto socialismo e Estado em cima de nós que a convergência não é difícil. Mas, no trajeto, iríamos divergir, porque a IL ia querer mais do que nós, menos Estado", apontou Rio.
Cotrim Figueiredo assumiu que os dois "concordam no diagnóstico", mas divergem no "caminho" e "na urgência", criticando a "falta do sentido de urgência e de pressa" do PSD, que acusa de estar a fazer uma "campanha prudente".
"Está a fazer uma campanha prudente, tentando não desagradar a ninguém. Falta um certo rasgo, falta ambição, falta a tal pressa", aponta o líder do Iniciativa Liberal. "O PSD mexe na saúde, mas mexe 'poucochinho'. Mexe nos impostos, mas mexe 'poucochinho' e tarde."
Seria um bom primeiro-ministro se tivesse a Iniciativa Liberal a seu lado", afirmou ainda Cotrim Figueiredo.
Convergir foi o verbo mais repetido neste frente a frente cordial, onde os dois candidatos se mostraram abertos a um acordo pós-eleitoral.
Rio assumiu mesmo que "quer a IL quer o CDS são parceiros com quem o PSD facilmente se entende". Mas para isso, recorda, "é preciso que eu ganhe as eleições e que a direita tenha votos suficientes para ter 116 deputados".
Já Cotrim Figueiredo recusou responder sobre se estaria disponível para ser o "número dois" de Rui Rio, mas assegurou não faz questão de ter lugares "ao contrário de outros". Ainda assim, defendeu que os sociais-democratas "precisam da energia reformista da IL para pôr Portugal à frente".
Política fiscal liberal: Um "mundo maravilhoso"?
No que toca a medidas fiscais, Rio concorda em descer o IRS e IRC, mas mantendo o "modelo que existe, com as taxas progressivas", enquanto a IL quer uma taxa única em dois passos. Para o líder do PSD, a medida "ou dá um buraco orçamental de todo o tamanho ou dá uma grande injustiça".
Além disso, Rio considera que que a proposta da Iniciativa Liberal de ter uma taxa única de IRS de 15% e descer o IRC em 15 pontos percentuais "é o descalabro orçamental".
É um mundo maravilhoso, só que o orçamento não aguenta", acrescenta o líder do PSD.
Já João Cotrim Figueiredo assegura que fez as contas e que a proposta é "responsável", explicando que "só o crescimento económico paga metade" da medida.
"É comportável se acreditamos, como a IL acredita, que uma redução fiscal produz crescimento. E é de crescimento que o país precisa para melhores salários e para as pessoas não emigrarem", referiu.
Privatizações: "A sangria financeira" que o IL não quer
Da TAP à Caixa Geral de Depósitos (CGD), o debate seguiu para o campo das privatizações, com Rio a tentar pôr travão ao ímpeto das propostas liberais.
No caso da TAP, o presidente do PSD apontou que não pode garantir, tal como o IL, "nem mais um tostão" para a companhia, uma vez que assim o Estado perderia o que já lá investiu. "Agora é preciso capitalizar a TAP e, depois, privatizar", argumentou.
Já quanto à RTP, Rio defendeu que "presta um serviço importante à sociedade" e que até já deu lucro "pelo menos nos últimos dois anos".
"Se continuar nesse caminho, eu não vejo necessidade de privatizar, se for uma sangria financeira, aí não há outro remédio", defendeu.
Mais drástico, Cotrim Figueiredo referiu que a televisão pública "já é uma sangria para os contribuintes". "Todos os portugueses têm de pagar a RTP mesmo que não tenham qualquer interesse", sublinhou.
Os dois candidatos discordam ainda sobre a privatização da CGD. Rui Rio considera que se a Caixa "está capitalizada, equilibrada e não está a dar prejuízo", e por isso "faz sentido um banco público, mas não é um dogma".
"Se a CGD começar a ter prejuízo ou ser mal gerida", adianta, "então nem pensar".
Educação e Saúde
O líder do Iniciativa Liberal reiterou, neste debate, a proposta de que os portugueses possam escolher livremente os prestadores de cuidados de saúde ou a escola dos filhos.
Já o presidente dos sociais democratas considera que "o Estado tem obrigação de prestar serviços públicos de educação de qualidade" e um Serviço Nacional de Saúde "capaz de responder" aos portugueses.
Ainda assim reconhece que, no caso da Saúde, "é impossível, só com o público, prestar esse serviço nos hospitais". "Tendo capacidade instalada no público e privado, não tenho medo da palavra negócio, que é quando ganham os dois", completou.