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Crise agrava-se com receio de ataque iminente na Ucrânia. Eis o essencial
Notícias
Publicado em 14/02/2022

Os receios de um conflito armado agravaram-se com o alerta dos Estados Unidos da América (EUA) de que um ataque russo pode acontecer "a qualquer momento", ainda antes do fim dos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim, que terminam no domingo, 20 de janeiro.

Principais desenvolvimentos da crise sobre a Ucrânia nos últimos dias:

Invasão "a qualquer momento"

O alerta chegou de Washington na sexta-feira, dia 11, e foi transmitido por Jake Sullivan, conselheiro de segurança nacional da Casa Branca: os EUA têm informações de que a Rússia poderá atacar a Ucrânia "a qualquer momento".

O ataque, segundo os EUA, pode ocorrer ainda antes do fim dos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim, que terminam no domingo, 20 de janeiro.

Sullivan disse que os EUA não sabiam se o Presidente russo, Vladimir Putin, já tinha tomado a decisão, mas as informações recebidas apontavam para um ataque, que poderá começar com bombardeamentos aéreos.

"Continuamos a ver sinais de escalada russa, incluindo novas forças a chegar à fronteira ucraniana", disse Sullivan.

A Rússia qualificou os alertas de Washington como "histeria".

Países ocidentais aconselham saída

Na sequência do alerta, os EUA pediram aos seus cidadãos para saíram o mais rapidamente possível da Ucrânia.

Washington anunciou o encerramento da sua embaixada em Kiev e pediu aos norte-americanos que não consigam sair por outros meios para usarem a fronteira polaca.

"Os cidadãos dos EUA na Ucrânia devem estar cientes de que o Governo dos EUA não poderá retirar cidadãos norte-americanos no caso de uma ação militar russa em qualquer parte da Ucrânia", avisou o Departamento de Estado na sua página na Internet.

"A ação militar pode começar a qualquer momento e sem aviso prévio e terá também um impacto grave na capacidade da embaixada dos EUA de prestar serviços consulares, incluindo assistência aos cidadãos dos EUA na partida da Ucrânia", disse o Departamento de Estado.

Muitos outros países seguiram o exemplo dos EUA, incluindo Reino Unido, Noruega, Dinamarca, Bélgica, Países Baixos, Alemanha, Espanha, Israel, Canadá, Austrália, Nova Zelândia, Japão, Iraque, Kuwait e Itália.

Hoje também o Governo grego aconselhou os seus cidadãos que se encontram na Ucrânia a "abandonarem o país imediatamente" face à probabilidade de uma invasão russa e à crescente tensão dos últimos dias.

Marrocos anunciou igualmente hoje que vai repatriar os seus cidadãos que se encontram na Ucrânia num voo que sairá terça-feira de Kiev.

Portugal também

No domingo, dia 13, Portugal também sugeriu aos cerca de 240 portugueses que se encontram na Ucrânia que ponderem "sair temporariamente do país" e desaconselhou viagens a Kiev.

"Devido à tensão militar crescente junto às fronteiras da Ucrânia, não sendo de excluir um agravamento da situação de segurança, desaconselham-se as viagens para a Ucrânia que não sejam estritamente essenciais", afirmou o Ministério dos Negócios Estrangeiros.

Em Paris, o chefe da diplomacia portuguesa, Augusto Santos Silva, disse no mesmo dia que Portugal vai manter a embaixada em Kiev aberta para garantir apoio aos portugueses.

"Quanto aos portugueses que residem na Ucrânia, que são cerca de 240, a embaixada e secção consular em Kiev estão em contacto permanente com todos eles. Aqueles que não tenham de permanecer por razões essenciais na Ucrânia, que ponderem afastar-se temporariamente desse país", disse o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros.

Atividade diplomática intensa

O alerta dos EUA originou muitas chamadas telefónicas para o Kremlin: Putin falou, no dia 12, com os homólogos francês, Emmanuel Macron, e norte-americano, Joe Biden.

Das conversas, soube-se que cada uma das partes reafirmou as suas posições, pelo que de nada terão servido para aliviar tensões no terreno.

No mesmo dia, conversaram também ao telefone os chefes da diplomacia russo, Sergei Lavrov, e norte-americano, Antony Binken, bem como os responsáveis pela Defesa dos dois países, respetivamente, Sergei Shoigu e Lloyd Austin.

O ministro da Defesa britânico, Ben Wallace, esteve em Moscovo no dia 11, mas do encontro com Shoigu, não saiu o "fumo branco" que tantos esperavam.

No mesmo dia, Washington anunciou uma conversa telefónica entre os chefes das forças armadas norte-americanas, general Mark Milley, e russas, general Valery Guerasimov, mas sem dar detalhes, apenas que "discutiram uma série de preocupações de segurança".

Entretanto, a par do chanceler alemão, que esteve hoje em Kiev e viaja na terça-feira para a capital russa, o chefe da diplomacia italiana, Luigi Di Maio, avançou esta segunda-feira que também irá deslocar-se, nos próximos dois dias, à Ucrânia e à Rússia.

Ainda programada, mas encarada com incómodo pelos EUA em plena crise russo-ucraniana, está a visita do Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, na terça-feira a Putin.

Situação no terreno

O Ministro das Forças Armadas britânico, James Heappey, disse, no dia 12, que a Rússia já tem "130.000 tropas de combate à volta das fronteiras terrestres da Ucrânia".

Além disso, segundo Heappey, "há milhares mais na navegação anfíbia no Mar Negro" e um ataque russo pode acontecer a qualquer momento, "sem aviso prévio".

Nos últimos dias, vários países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) têm estado a enviar reforços para o flanco oriental da Aliança, incluindo para a Roménia, Polónia, Lituânia.

Os EUA decidiram enviar mais 3.000 soldados para reforçar a capacidade de defesa dos países da Europa de leste que integram a NATO.

A Organização para Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) convocou uma reunião para terça-feira, na qual os 57 membros podem participar para obter informações de Moscovo sobre as atividades militares nas fronteiras ucranianas.

A reunião - incluindo Ucrânia, Rússia, EUA e União Europeia (UE) - foi solicitada pelo Governo ucraniano, no âmbito de um mecanismo para promover a transparência e reduzir os riscos nas atividades militares dos estados da OSCE.

"O melhor amigo do inimigo é o pânico"

Face à dramatização da situação, o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse que "está tudo sob controlo" e pediu que não seja semeado o pânico.

"Não posso dizer se concordo ou discordo [da análise dos EUA]. Reunimos informações e analisamo-las. (...) O melhor amigo dos inimigos é o pânico no nosso país e toda essa informação só ajuda ao pânico e não nos ajuda", disse Zelensky no dia 12.

Zelensky disse que os ucranianos estão preparados, lembrando que vivem em guerra com a Rússia desde 2014.

"Isto não começou ontem, isto começou em 2014. Então, estamos preparados", disse.

Sanções nunca vistas

Os EUA e os seus aliados prometeram aplicar sanções nunca vistas à Rússia se invadir a Ucrânia.

Os pormenores não foram divulgados, mas poderão implicar a retirada da Rússia do sistema de transferências interbancárias, o que poderá afetar o acesso aos lucros internacionais do petróleo e do gás, que representam 40% das receitas russas.

O adiamento da entrada em funcionamento do gasoduto Nord Stream 2, que liga diretamente a Rússia à Alemanha, pode ser outra das sanções, mas Moscovo também pode cortar os fornecimentos de gás à União Europeia (UE).

Perante essa possibilidade, os EUA e a UE têm mantido contactos com outros fornecedores para suprir as necessidades europeias, mas a simples perspetiva de crise contribuiu para fazer disparar os preços dos combustíveis e a inflação na Europa.

Os EUA também pretenderão restringir a exportação de tecnologia para a Rússia, sobretudo em áreas como a indústria aeroespacial e de defesa, robótica ou inteligência artificial, que Moscovo não poderá substituir facilmente.

Os ministros das Finanças do G7 (as sete maiores economias do mundo) anunciaram hoje estar prontos a impor sanções económicas e financeiras com "consequências maciças e imediatas para a economia russa" no caso de uma agressão militar contra a Ucrânia.

Exigências de Moscovo

O Ocidente acusa Moscovo de pretender invadir novamente a Ucrânia, depois de ter anexado a península ucraniana da Crimeia em 2014, e de apoiar, desde então, uma guerra separatista na região do Donbass, no Leste do país.

A Rússia nega qualquer intenção bélica, mas condiciona o desagravamento da crise a exigências que diz serem necessárias para garantir a sua segurança.

Essas exigências incluem garantias juridicamente válidas de que a Ucrânia nunca fará parte da NATO e que as tropas aliadas no Leste da Europa voltam a posições anteriores a 1997.

Os EUA e a NATO recusam tais exigências.

Sinal de esperança?

Na véspera da visita de Scholz, a agência estatal russa TASS noticiou que Sergei Lavrov acredita que ainda há uma hipótese de entendimento.

Segundo a TASS, Lavrov reuniu-se hoje com Putin e o Presidente perguntou-lhe se existe uma hipótese para se chegar a um acordo com o Ocidente sobre as principais preocupações de segurança da Rússia.

"Como responsável pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros, devo dizer que há sempre uma hipótese", respondeu Lavrov.

As oportunidades de diálogo "não estão esgotadas, [mas] não devem durar indefinidamente", disse Lavrov, acrescentando que Moscovo está "pronto para ouvir contrapropostas sérias".

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