"Uma coisa que me alegra nesta decisão do Governo é a mensagem muito clara que a ciência funciona, que as vacinas funcionam", adiantou à Lusa o investigador do Instituto de Medicina Molecular da Universidade de Lisboa.
Em relação ao uso das máscaras, que se mantém nos espaços interiores, o especialista considerou que, do ponto de vista científico, o Governo poderia ter "ido mais longe" e "voltar à normalidade completa", mas reconheceu que a "decisão política não é feita apenas com base na ciência".
"Como virologista, teria ido mais longe nas máscaras, mas compreendo perfeitamente que temos de ser cautelosos na forma como se desconfina em termos de impacto social. Há pessoas que estão ainda amedrontadas com o vírus", referiu.
Em relação ao fim do confinamento para os contactos de alto risco, Pedro Simas adiantou que também concorda com esta decisão, alegando que a variante Ómicron, responsável pela recente vaga pandémica, veio demonstrar que Portugal está em endemia.
"Jamais, com tantas infeções, se não estivéssemos em endemia, teria havido tão poucas mortes e tão poucas pessoas a entrar em cuidados intensivos", disse o virologista, ao sublinhar que o indicador do número de doentes em medicina intensiva foi sempre "extremamente estável" ao longo de toda a vaga que atingiu Portugal no início deste ano.
De acordo com o especialista, para quem o certificado digital também "não faz sentido" num país com uma elevada taxa de vacinação, a vaga da variante Ómicron foi a "prova dos nove" que comprovou que os portugueses estão protegidos pela vacinação e pela imunidade natural adquirida com a infeção.
"Vamos entrar naquilo que é expectável, que é um vírus da constipação comum que até é menos problemático, do ponto de vista de saúde pública, do que um vírus da gripe endémico. Tudo está em equilíbrio porque a ciência funciona", disse o virologista.
A melhoria de vários indicadores da pandemia de covid-19 levou o Governo a aprovar hoje o levantamento de várias restrições, um alívio de medidas que considerou ser "mais um passo para o regresso a uma vida normal".
O Conselho de Ministros decidiu terminar com o confinamento obrigatório de contactos de risco, com a recomendação do teletrabalho, com os limites de lotação em estabelecimentos comerciais, com a exigência do certificado digital, salvo no controlo de fronteiras, e com a obrigatoriedade de teste negativo para acesso a grandes eventos, recintos desportivos, bares e discotecas.
Segundo os dados hoje apresentados pelo executivo, o índice de transmissibilidade (Rt) - que estima o número de casos secundários de infeção resultantes de cada pessoa portadora do vírus -- está agora nos 0,76 e a incidência acumulada a sete dias baixou para os 1.302,7 casos de infeção por 100 mil habitantes.
Em queda está também o número de internamentos em enfermaria e em unidades de cuidados intensivos, que, de acordo com o boletim de hoje da Direção-Geral da Saúde, baixou para os 2.022 internados, dos quais 132 em unidades de medicina intensiva.
O número de óbitos, segundo o Governo, mantém-se ainda elevado, o que impede, para já, o levantamento total das restrições, que deve acontecer quando o país atingir os 20 óbitos a 14 dias por um milhão de habitantes, o limiar definido pelo Centro Europeu de Controle e Prevenção de Doenças (ECDC).
A covid-19 provocou pelo menos 5.848.104 mortos em todo o mundo desde o início da pandemia, segundo o mais recente balanço da agência France-Presse.
Em Portugal, desde março de 2020, morreram 20.708 pessoas e foram contabilizados 3.148.387 casos de infeção, segundo a última atualização da Direção-Geral da Saúde.
A doença respiratória é provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2, detetado no final de 2019 em Wuhan, cidade do centro da China.
A variante Ómicron, que se dissemina e sofre mutações rapidamente, tornou-se dominante no mundo desde que foi detetada pela primeira vez, em novembro, na África do Sul.