"Fui um dos membros do Conselho que chamou a atenção que a Europa não deve repetir agora a situação de impreparação que já revelou no passado, perante crises humanitárias que se afiguram claramente previsíveis e, portanto, deve desde já preparar os mecanismos de acolhimento", disse António Costa, esta madrugada, no final de uma cimeira extraordinária de líderes dos 27 iniciada na quinta-feira à noite para debater a agressão militar da Rússia à Ucrânia.
Sublinhando que Portugal reafirmou a sua total disponibilidade para "partilhar com todos os outros Estados-membros" a "obrigação de assegurar proteção internacional a todos", o primeiro-ministro lembrou que, "no caso concreto dos ucranianos, Portugal tem uma experiência muito positiva com a extraordinária comunidade ucraniana que já há quase 20 anos reside" no país.
"O senhor ministro de Estado, da Economia e Transição Digital [Pedro Siza Vieira] e a senhora ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social [Ana Mendes Godinho] têm estabelecido contactos com um conjunto vasto de empresas para a identificação de oportunidades de postos de trabalho em concreto", revelou.
Desse modo, prosseguiu, Portugal está em condições, através do Instituto do Emprego e de Formação Profissional, "de poder também fornecer os dados para o perfil profissional adequado às diferentes oportunidades de trabalho, que neste momento existem felizmente em Portugal e que são fundamentais, aliás, para apoiar a retoma da economia portuguesa".
Relativamente ao acolhimento de refugiados, António Costa disse que Portugal defende, como defendeu no passado, "relativamente a outros refugiados, que deve ser respeitado aqui o principio da solidariedade europeia, que todos os Estados-membros se devem disponibilizar e que os Estados que, pela sua proximidade geográfica, por terem uma fronteira comum, serão naturalmente os primeiros a serem solicitados na proteção internacional", acrescentando que, "neste caso concreto, com toda a probabilidade será a Polónia".
Quanto a Portugal, reiterou que será assegurada "a concessão imediata de vistos para todos aqueles que sejam familiares, amigos ou conhecidos de residentes em Portugal e queiram desde já ir residir para Portugal", tendo sido já "dadas instruções nesse sentido" aos serviços consulares e embaixadas "quer na Ucrânia, quer nos países limítrofes".
A Rússia lançou na madrugada de quinta-feira uma ofensiva militar em território da Ucrânia, com forças terrestres e bombardeamento de alvos em várias cidades, que já provocou pelo menos meia centena de mortos, 10 dos quais civis, em território ucraniano, segundo Kiev.
O Presidente russo, Vladimir Putin, disse que a "operação militar especial" na Ucrânia visa "desmilitarizar e desnazificar" o seu vizinho e que era a única maneira de o país se defender, precisando o Kremlin que a ofensiva durará o tempo necessário, dependendo dos seus "resultados" e "relevância".
O ataque foi de imediato condenado pela generalidade da comunidade internacional e motivou reuniões de emergência de vários governos, incluindo o português, e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), UE e Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Segundo dados do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR), pelo menos 100.000 pessoas já abandonaram as suas casas na Ucrânia devido à invasão russa e vários milhares cruzaram as fronteiras rumo a países vizinhos.