Um oficial da Polícia do Capitólio morreu na noite de quarta-feira devido a ferimentos sofridos durante embates com apoiadores do presidente Donald Trump durante a invasão do Capitólio, na última quarta-feira. Sua morte é a quinta relacionada aos eventos desta semana na capital dos Estados Unidos, insuflados pela retórica presidencial.
Segundo as autoridades, o agente Brian Sicknick "respondia aos distúrbios na quarta-feira no Capitólio e foi ferido enquanto enfrentava fisicamente os invasores", informou a Polícia do Capitólio em um comunicado. De acordo com fontes ouvidas pelo New York Times, ele teria sido agredido com um extintor de incêndio.
"[Ele] voltou para seu posto e entrou em colapso", diz a nota, acrescentando que "foi levado para um hospital local, onde não resistiu aos ferimentos". A morte, afirmaram ainda as autoridades, será investigada pelo departamento de homicídios da polícia metropolitana de Washington.
Sicknick, que trabalhava há 12 anos na força, é o primeiro policial morto por causa da violência deflagrada na quarta, quando uma multidão insuflada por Trump invadiu o Congresso para tentar impedir a certificação da vitória do presidente eleito Joe Biden, última etapa antes de sua posse no dia 20.
Veículos de comunicação haviam comunicado sua morte prematuramente no início da noite de quinta, algo que foi desmentido pouco depois pela polícia. O óbito, entretanto, ocorreu por volta de 23h30, horário de Brasília.
As outras quatro pessoas que morreram eram todas manifestantes, incluindo a veterana da Força Aérea Ashit Babbitt, baleada pela polícia dentro do Capitólio. As outras mortes ocorreram no perímetro do prédio, em circunstâncias ainda sob investigação, e suas causas foram descritas como "emergências médicas". Ao menos 56 policiais ficaram feridos.
A inação da polícia para conter os apoiadores de Trump levantou uma série de críticas e dúvidas sobre sua resposta ao incidente. Diante disso, o chefe da polícia do Capitólio, Steven Sund, renunciou após um pedido da chefe da Câmara, a democrata Nancy Pelosi. O responsável pela segurança da Casa, Paul Irving, também deixou seu cargo.
Já o chefe da segurança no Senado, Mike Stenger, apresentou sua demissão após o líder da maioria no Senado, o republicano Mitch McConnell, demandar sua renúncia. Horas antes, o futuro líder da Casa, o senador democrata Chuck Schumer, havia dito que demitiria Stenger assim que tomasse posse, caso ele ainda permanecesse no cargo após a troca de poder.
As demissões ocorrem simultaneamente a denúncias sobre a preparação das forças policiais para conterem os atos pró-Trump. Há semanas, o evento era discutido em fóruns e sites populares entre os apoiadores do presidente, e sabia-se da presença de grupos armados e de extrema direita.
Segundo o New York Times, a Polícia do Capitólio, com um efetivo de dois mil agentes, teria rejeitado o reforço da Guarda Nacional na iminência dos atos pró-Trump. Seis dias antes, a deputada democrata Maxine Waters havia indagado Sund sobre seus planos para a segurança, e ele teria afirmando que tudo estava sob controle. Na quarta, conforme o caos começava a se instalar, o apoio do FBI também doi inicialmente rejeitado
De acordo com o Washington Post, o Departamento de Defesa teria imposto limites à atuação dos agentes da Guarda Nacional antes dos eventos, restringindo sua atuação a uma missão desarmada para organizar o trânsito e permitindo engajamentos apenas em autodefesa.
No início da tarde de quarta, no entanto, a Polícia do Capitólio teria feito um apelo de emergência para que a Guarda Nacional a auxiliasse, mas a secretária do Exército disse que isso não seria possível. Segundo uma fonte do jornal, cujo relato foi confirmado pela prefeita de Washington, Muriel Browser, havia preocupações nas Forças Armadas com a ótica de ter soldados dentro da sede do Legislativo.
Em paralelo, mais de 50 casos criminais foram abertos contra os invasores, que adentraram no prédio para tentar impedir que o Congresso realizasse sua plenária que confirmaria a vitória do presidente eleito Joe Biden, última etapa antes de sua posse no dia 12.
Os invasores pró-Trump não só forçaram os parlamentares a se esconderem, interrompendo a sessão que só seria retomada horas depois, como atacaram policiais com "barras de mental, produtos químicos e outras armas", segundo a polícia. Até quinta, apenas 70 pessoas haviam sido presas, em sua maior parte por violações ao toque de recolher. Um dos homens detidos carregava semiautomática e 11 coquetéis molotov.
O FBI abriu uma linha telefônica e um canal de denúncias online para auxiliar na identificação dos invasores, cujas imagens circulam na internet em abundância. O departamento também oferece até US$ 50 mil para quem fornecer informações relevantes sobre as bombas caseiras que foram encontradas nas sedes dos Comitês Nacionais Democrata e Republicano.
Segundo as autoridades, 40 denúncias foram apresentadas à corte local da capital americana com acusações de invasão de propriedade federal, agressão e posse de armas. Outras 15 ações transcorrem em nível federal por entrada ilegal no Capitóilio, posse de arma ou roubo de propriedade do Congresso, incluindo itens que podem comprometer a segurança nacional.
Uma cerca não escalável de 3 metros está sendo erguida ao redor do Capitólio para evitar novas invasões e deverá permancer lá por ao menos um mês.