DiCaprio, Katy Perry e outros artistas pedem a Biden que não feche acordo com Bolsonaro
21/04/2021 06:33 em Notícias

Um grupo de 36 artistas do Brasil e dos EUA enviou uma carta ao presidente Joe Biden pedindo que ele não feche um acordo com o governo de Jair Bolsonaro (sem partido) antes que ocorra uma redução real no desmatamento na Amazônia.

O texto afirma ainda que antes que qualquer compromisso seja firmado, deve-se garantir a livre participação da sociedade civil nos debates ambientais.

"Ações urgentes devem ser tomadas para enfrentar as ameaças à Amazônia, ao nosso clima e aos direitos humanos, mas um acordo com o Bolsonaro não é a solução. Encorajamos você a continuar o diálogo com povos indígenas e comunidades tradicionais da Bacia Amazônica, com governos subnacionais e a sociedade civil (...) antes de anunciar quaisquer compromissos ou liberar quaisquer fundos", diz o texto.

O documento foi assinado pelos atores Alec Baldwin, Joaquin Phoenix, Leonardo DiCaprio, Mark Ruffalo e Orlando Bloom, além dos cantores Katy Perry e Roger Waters, entre outros. Do lado brasileiro, subscrevem Caetano Veloso, Fernando Meirelles, Marisa Monte, Sonia Braga e Wagner Moura (veja a íntegra da carta e a lista completa ao final desta reportagem).

"Nosso futuro climático depende da proteção da Amazônia e do apoio aos defensores indígenas da floresta. Tenho orgulho de prestar minha solidariedade a eles. Nos unimos para exigir: "Presidente Biden: com Bolsonaro não há acordo!", disse o ator Mark Ruffalo, que interpretou o super-herói Hulk nos filmes do Universo Cinematográfico Marvel.

"Há um golpe no Brasil, não é um golpe militar. É muito difícil para as pessoas fora do Brasil saberem exatamente o que está acontecendo e a dimensão do perigo pelo qual estamos passando. Este não parece mais com o país que conheci, onde vivi e que amei tanto", afirmou a atriz Sonia Braga.

O manifesto dos artistas se junta a outros pedidos feitos a Biden nos últimos dias, que o instam a não fechar um acordo com Bolsonaro sem que haja participação da sociedade.

No começo de abril, mais de 200 entidades brasileiras enviaram uma carta à Casa Branca para pedir ao presidente americano que não fizesse um acordo a portas fechadas com Bolsonaro, pois consideram que a gestão federal não tem legitimidade para representar o Brasil.

Na semana passada, senadores democratas enviaram uma carta a Biden pedindo que a Casa Branca só libere fundos ao Brasil para ajudar na preservação da Amazônia se houver um compromisso sério do governo Bolsonaro com a redução do desmatamento e punição a crimes ambientais.

Em reunião recente com membros da equipe de John Kerry, enviado especial da Casa Branca para o clima, organizações enfatizaram que o presidente brasileiro não é confiável e que repassar recursos antes de haver progresso real seria premiar o retrocesso na política ambiental do país e ajudar na estratégia de relações públicas de Bolsonaro.

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, vem tentando convencer os EUA a enviarem dinheiro ao Brasil em troca de metas de redução de desmatamento. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, declarou que conseguiria reduzir a devastação da floresta amazônica em até 40% em 12 meses -mas somente se recebesse US$ 1 bilhão (R$ 5,6 bilhões) de países estrangeiros.

Na semana passada, em carta enviada a Biden, Bolsonaro se comprometeu a acabar com o desmatamento ilegal em território brasileiro até 2030 e ponderou que a meta "exigirá recursos vultosos e políticas públicas abrangentes".

Como mostrou a Folha, o presidente brasileiro avalia anunciar mais recursos para agências como Ibama e ICMBio durante a cúpula de Biden, mas enfrenta resistência do Ministério da Economia, que não quer ampliar despesas em meio à pandemia e à crise fiscal.

Os americanos querem que Bolsonaro afirme que não vai mais tolerar o desmatamento ilegal no Brasil e apresente um plano concreto para diminuir os números de destruição das florestas no curto prazo, o que poderia incluir o aumento de verba para órgãos de fiscalização do meio ambiente.

A Casa Branca realizará nesta quinta (22) e sexta (23) a Cúpula do Clima, durante a qual o presidente americano quer recolocar os EUA como líderes ambientais e que tem como ambição de limitar o aquecimento global a 1,5 ºC. Para isso, Biden vai anunciar novas metas para o país para diminuir até zerar a emissão de gases que geram o efeito estufa.

O evento, com dezenas de líderes mundiais, será online e transmitido ao vivo. Ao todo, há 40 líderes convidados, incluindo Bolsonaro, o presidente francês, Emmanuel Macron, e a primeira-ministra alemã, Angela Merkel. O Brasil deve discursar na sessão de abertura, assim como a China.

Interlocutores americanos dizem querer ver no encontro mais do que apenas o compromisso de Bolsonaro com o fim do desmatamento ilegal até 2030. Eles insistem que é preciso mostrar ações imediatas para que as promessas produzam resultados tangíveis.

O desmatamento na Amazônia cresceu 9,5% entre agosto de 2019 e julho de 2020, segundo dados do governo brasileiro. Foi o maior percentual em uma década. A derrubada da mata é acompanhada por um crescimento das queimadas na região. Bolsonaro e membros de sua equipe costumam minimizar o problema, além de fazer críticas ao trabalho de ONGs. Em 2019, Bolsonaro disse que elas eram suspeitas de incendiar a floresta, sem apresentar provas.

Íntegra da carta Carta dos artistas do Brasil e dos EUA ao Presidente Joseph Biden

Estados Unidos, Brasil, 20 de abril de 2021

Proteja a Amazônia

Caro presidente Biden,

Obrigado por seu compromisso de agir pelas mudanças climáticas, pela conservação das florestas e pelo respeito aos direitos e à soberania dos Povos Indígenas. Escrevemos para você hoje como artistas e músicos dos Estados Unidos e do Brasil para expressar nosso apoio e solidariedade aos Povos Indígenas e organizações da sociedade civil na Bacia Amazônica –e ao redor do mundo– que expressaram profunda preocupação com relação a possíveis acordos ambientais com o presidente brasileiro Jair Bolsonaro. Instamos sua Administração a ouvir nosso apelo e a não se comprometer com nenhum acordo com o Brasil neste momento.

Proteger a Floresta Amazônica é essencial para soluções globais para lidar com as mudanças climáticas. No entanto, a integridade deste ecossistema crítico está se aproximando de um ponto de não retorno devido às crescentes ameaças à floresta tropical e aos seus guardiões pelo governo Bolsonaro, incluindo desmatamento, incêndios e ataques aos direitos humanos.

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